Vamos lá tentar descrever alguma sensações passadas nas 33h na Serra da Estrela.
Tudo começou em Setembro de 2015 quando descobri que ia ser pai.
Após o OMD 2015 tinha decidido que na próxima edição estaria do lado de fora da prova, dando apoio aos atletas que se aventuram a atravessar a bela e perigosa Serra da Estela em especial a minha super atleta Necas. Pois bem, quando soubemos da boa nova, a presença da Inês estava fora de questão. Naquele momento a Inês chorava por não participar. E eu disse de imediato:
- Inês se tu não podes ir, vou eu! E vou às 100 milhas!
Estava decidido!! E pus-me a caminho.
Como se isso não bastasse, incentivei os meus mais chegados a participar também, fossem eles pouco, nada ou muito experientes. As negas foram muitas, mas com persistência consegui a presença de muitos.
O Adelino, Zé To, Iria e Tigas arriscaram nos 40k que são extremamente difíceis. A exceção do Tigas, que se lesionou em cima do evento e não conseguiu participar, todos concluíram a prova com sucesso. Aqui entre nós, depois desta aventura, já andam a pensar em voos mais altos.
O maior desafio foi mesmo tirar do sofá os meus amigalhaços que não se mexiam aos anos. O João Daniel, o Bamba, o Teixeira, a Dulce, o Antunes (neste caso o sucesso era mais que previsível, está em grande forma e qualquer dia está a fazer uma Maratona). Tentei de tudo, mensagens, conversas a desafiar e nada, não havia maneira de se inscreverem. Até que decidi ser eu a tomar a iniciativa. Tungas, inscrevi-os na prova e esse foi o clique que precisavam. A medo, lá se foram preparando. E não é que houve um pequeno percalço e em vez de fazerem os 20km onde estavam inscritos acabaram por fazer 31km. Ah Serranos de uma figa. Prometeram voltar e até participar em outras provas. Só por isto valeu a pena toda a minha persistência.
Sexta Feira 3-6, 13h, saída da Covilhã em direção a Seia. Lá fui de boleia com o amigo João que fez o favor de me levar a partida, devia ter medo que borrasse a cueca e desistisse antes de começar :) Mentira, fez questão de estar presente naquele momento e eu agradeço do fundo do coração a sua amizade e disponibilidade para me aturar.
Seguimos serra acima, paramos na fonte da Santa para encher os reservatórios de água que levava comigo. Era o que faltava ir para a serra e beber agua engarrafada. Paramos no Sabugueiro para um cafezinho e outro acompanhamento que não digo qual é por vergonha :(
Chegados a Seia começou o nervosismo.
Sai do carro em direção ao secretariado para levantar o dorsal e mal sentia as pernas de tão bambas que estavam. Oh Meu Deus, onde eu me vim meter! Com tantas caras conhecidas e conversas aquilo lá passou.
Saídos do briefing, lá ao fundo avisto a Ana e o Adelino. Pensei: "Estes são malucos!! Que raio estão aqui a fazer?". Depois aparece o Iria e a Sandra. Disseram que saíram mais cedo para me verem partir e incentivar. Sinceramente não sei o que fiz para merecer tamanho carinho. Espero um dia poder retribuir todo este carinho que vocês manifestam por mim. Estava completamente descontraído para partir por ali fora.
O contador lá atras estava em contagem decrescentes (10,9,8...) e a minha postura era esta. Ridículo!
Parti bem cá de trás, como costume. Neste tipo de provas não me interessa o tempo que faço ou o lugar em que fico. Faço por gosto, por realização pessoal por enriquecimento próprio, por experiência e modo de vida. Deixo os PBT´s, médias e lugares para o fim da corrida. Por vezes as surpresas acontecem!
No briefing fiquei a saber que os primeiros 50km apesar de exigentes eram bastantes rolantes o que permitia correr muito e a grande velocidade.
Assim foi, chegado ao Vale do Rossim ia fresco e feliz da vida. Para além do percurso ser propicio a correr era extremamente bonito, com paisagens deslumbrantes. Para juntar a beleza natural da Serra, o nevoeiro fez nos companhia durante esse trajecto. Dando a serra um ar misterioso. Correr acima das nuves absolutamente fantástico.
Quem é que lá estava, quem era? Pois claro, o Adelino, a Ana e o Iria! A serio... o que é que vocês aqui estão a fazer! :) La trocamos uns dedos de conversa, e umas risadas. Uma verdadeira comédia, só visto... Segui caminho sob os incentivos destes 3 generosos amigos, com a garantia que não estariam na próxima paragem.
Quem é que lá estava, quem era? Pois claro, o Adelino, a Ana e o Iria! A serio... o que é que vocês aqui estão a fazer! :) La trocamos uns dedos de conversa, e umas risadas. Uma verdadeira comédia, só visto... Segui caminho sob os incentivos destes 3 generosos amigos, com a garantia que não estariam na próxima paragem.
Cheguei ao Sabugueiro num instante. 60km já cá moram. Só faltam os 100 do ano passado, pensei eu. Ali chegado começo a ouvir o meu nome. "Mau, mas quem é o doido que aqui está?" Era o Saraiva e a Irene!! A sério?? Tinham prometido que se fizesse as 100 milhas iam acompanhar, mas julguei que era brincadeira. Bem hajam por tudo, vocês são incríveis! Ali estivemos um pouco a conversa bem animados.
Saí dali com mi companheiro de carrera (Manuel...) desde o km 20 e tal até aos 70 km. Este Senhor deu-me uma grande lição de vida, de resistência, persistência, esforço, humildade... Espero um dia voltar a cruzar-me com este grande lutador!
Chegado a Lagoa Comprida, depois de um troço muito difícil e exigente começam os problemas técnicos.
Sabugueiro - Km 60 Foto José Saraiva |
Foi uma subida e tanto... desde a barragem hidroelétrica até a lagoa comprida houve de tudo. Estradões a subir, a descer, mato com mais 2 metros de altura, escalada de rocha em rocha, algumas com agua a correr o que fazia as sapatilhas escorregar que nem uns patins. Isto tudo na noite cerrada da estrela, onde a noite sem a luz da lua é verdadeiramente escura. Via-se apenas as luzes dos frontais lá ao cimo que anunciavam que a subida ainda era comprida e demorada. Nessa parte do percurso passamos junto aos Cornos do Diabo, mas infelizmente (ou não) não foi possível avistar.
Tinha a sensação de ter areia nas sapatilhas, sentei-me numa rocha, descalcei, limpei os pés e voltei a correr, mas as areias permaneciam. Cheguei então ao PAC da Lagoa aflito dos pés. Deslacei-me para ver que raio se passava. Afinal não eram areias mas sim bolhas nos pés. nunca tinha tido sofrido deste mal. Felizmente levei um par de meias na mochila para precaver algo deste género.
Limpei bem os pés, mudei de meias, mas a diferença foi pouca, para não dizer nenhuma. Dali até a torre eram cerca de 10km, não consegui correr 100 metros seguidos, tal eram as dores. A temperatura era baixa e sem correr não conseguia aquecer, estava totalmente desesperado, os minutos iam passando e a torre nunca mais chegava. estava esgotado e cheio de frio. Pensei que era o fim, ia desistir depois de 70 km tão bons. Quase chorava ali no planalto completamente sozinho. Os atletas dos 100 km começaram a passar-me e pensei: "Não tarda está aqui o Luzio, pode ser que recupere e acompanho-o um pouco". Mas nada, nunca mais aparecia.
Ora bolas, bolhas, frio, desmotivado e aquele gajo não aparece. Mas que raio se passou!?
Pensei ligar, mas não queria parar ali no meio com tanto frio. Não tarda está aí...
Torre, finalmente cheguei!
As enfermeiras da Cruz Vermelha perguntaram:
- Precisa de alguma coisa?
- Sim, preciso que me vejam os pés!
- Vamos lá ver isso então.
- Primeiro deixe-me comer e beber se faz favor, que já nem sei se tenho mais dores ou fome.
Comi muito. Sopa, arroz, queijo, presunto, marmelada, banana. Eu sei lá. Lá foram ver os pés... eram só 4 bolhas, 2 em cada pé! Enquanto faziam os curativos mediam-me também a temperatura. Ninguém saía dali com menos de 36º. Pois claro, estava abaixo e bem abaixo. Pumbas...
- Fique aqui a beber chá e comer sopa para aquecer...
Raios me partam, não faltavam as bolhas e ainda estava em risco de hipotermia!?
Ali fiquei, mandei mensagem a Inês, como havia combinado para me encontrarem em Unhais dali a 2h e pouco. Vontade não me faltava para sair rapidamente dali e ir a Unhais para trocar de sapatilhas.
Passado uns copos de chá e sopas quentinhas o corpo lá estabilizou nos 36º e tive alta para me por dali a mexer. Vamos lá testar estes pensos caneco!! Corri por ali fora até Unhais da Serra onde completei os 100k.
Descendo o trilho da torre até ao Covão do Boi onde começa a estrada e se vê a gravura da Santa esculpida nas rochas, passa um carro a buzinar. Olho lá para dentro e quem era?
O Luís Nunes, amigo de infância, colega de escola primaria, nascido no mesmo dia e ano que eu, 1-2-1980. Adivinhem para onde ia?
Seia pois claro, o K 70 espera por ele. Fiquei contente de o ver e com esperança de voltar a cruzar-me com ele já depois da segunda passagem na Torre. Não sei que raio nos deram na maternidade, mas que foi forte lá isso foi! :P
Naquele troço a vontade de correr era tanta que cheguei a fazer km a 5'10. Embalado pela boleia do companheiro Paulo Ferreira que estava a fazer os 100km e pela Isabel que estava nas 100 milhas como eu.
Perguntei ao Paulo pelo Luzio, disse-me que ia a frente dele.
Mau, mas ele não passou por mim, ou será que passou na torre enquanto estava na enfermaria?
Estranho...
Chegado la abaixo estava a Necas, o meu cunhado Cardoso e a minha irmã Alexandra.
A Inês disse-me que estava com os lábios brancos e que tinha de beber agua. Pois... eu não disse que o queria era correr? Ate me esqueci de beber agua.:)
Unhais da Serra 100km - Foto Pedro Cardoso |
Bem aquele abastecimento em Unhais da Serra, no H2Otel foi um verdadeiro luxo. A vontade de sair dali era pouca ou nenhuma. Tinha tudo do bom e do melhor. Melhor ainda era ter roupa lavadinha e sapatilhas a minha espera.
Ali fiquei a saber que o Luzio tinha tido uns problemas técnicos e desistiu. Fiquei de rastos, treinou tanto e está em tão boa forma e desistiu!?
Bolas... isto hoje está a correr bem está!
A noticia boa é que apesar de tudo fiz os 100km em 16h e 40 min, estes dados deram me motivação e esperança que ia conseguir chegar ao fim.
Descansei um pouco, respondi a algumas sms de incentivo. A Cláudia, o Hugo, o Gonçalo, o João, a Joana, a Raquel, o Bamba... Liguei o facebook, mas assim que o fiz desliguei logo, aquilo estava o fim do mundo. A malta do Correr Lisboa estava a acompanhar a minha prova e os incentivos eram mais que muitos, desde os companheiros mais chegados a ilustres desconhecidos. A família Correr Lisboa, é assim, solidaria para com os seus companheiros.
O João Pedro alem de me ter acompanhado durante a prova também me acompanhou em alguns treinos. Este miúdo qualquer dia está a fazer estas loucuras e ainda diz que a culpa é minha, depois quem tem que ouvir a Ana e o Adelino sou eu.
No Whats Up, os companheiro de trabalho e corrida também me apoiavam. Obrigado por tudo, vocês estão muito fortes! :)
O João Pedro alem de me ter acompanhado durante a prova também me acompanhou em alguns treinos. Este miúdo qualquer dia está a fazer estas loucuras e ainda diz que a culpa é minha, depois quem tem que ouvir a Ana e o Adelino sou eu.
O Tigas dizia já faltava pouco... "só" 60 km. :)
No Whats Up, os companheiro de trabalho e corrida também me apoiavam. Obrigado por tudo, vocês estão muito fortes! :)
Já tive oportunidade de dizer que vocês estragam me com mimos e nunca conseguirei agradecer e retribuir todo o vosso carinho. Obrigado a todos e desejo que vocês cumpram também todos os vossos sonhos.
Acreditem que não há impossíveis e na corrida a cabeça é tão ou mais importante que as pernas.
Corram com o coração e alcancem a vossa meta independentemente dos tempos conseguidos. Seremos sempre uns vencedores!
De Unhais da Serra a Alvoco da Serra eram aproximadamente 12 km, sendo uns 7km a subir. Diziam que era mais fácil que no ano passado, mas eram mais km. Bem eu cá não sei se foi ou não mais fácil, mas que me custou lá isso custou.
Chegado ao cimo da montanha a vista era brutal, via-se lá ao fundo a vila e toda a cadeia montanhosa da Serra do Açor, brutal mesmo. Fiquei com vontade de lá voltar, mas não sei bem como pois os carros não passam lá e a pé não sei se me apetece muito :)
Já disse que me custou horrores a subir, mas dali até ao Alvoco era sempre a descer, e o que parecia fácil tornou-se difícil. Correr por ali abaixo no meio de pedras e cascalho com 2 bolhas em cada pé é algo verdadeiramente tortuoso. Disse tanto mal da minha vida, cheguei a vila totalmente desmoralizado.
É aqui que entram em campo o David e a Isabel. Já nos conhecemos há algum tempo e a minha admiração por este casal já era grande por toda a sua experiencia em corridas deste género. Juntos somam mais de 200 maratonas e ultra maratonas, percorridas em todo o mundo. Mas a partir deste dia não só aumentou a minha admiração como terei um agradecimento profundo para com eles.
Boa sorte para a PT 281, espero conseguir estar presente para vos apoiar no que puder.
O troço Unhais Torre tinha sido feito com um companheiro que agora sei o nome (Manuel Augusto) mas que durante toda a prova o chamei Algarvio. Durante a noite foi também uma preciosa ajuda para encontrar o trilho certo.
Estas provas têm o condão de nos apresentarem gente extraordinariamente fantástica, bem disposta, onde a entreajuda e companheirismo estão acima de qualquer classificação ou tempo final.
Na ponta final da descida descolou e nunca mais o vi, mas fico feliz por ter acabado a prova e abaixo das 32h, que eram os seus dois objetivos.
No abastecimento do Alvoco (que estava 5 estrelas, como costume) disse meio a brincar meio a serio, "Já aqui ficava". A Isabel que estava ao meu lado, olhou para mim e disse: "Então, que conversa é essa? É até ao fim!". Depressa arranjei uma desculpa qualquer e disse claro que sim, é até ao fim.
Ups... não voltes a dizer isto...
Até a torre são cerca de 8 km com 1.200 D+, com o mítico km vertical pelo meio, coisa pouca.
Lá arrancamos os 3: eu, o David e a Isabel.
O percurso é duro, mesmo muito duro, zonas onde é praticamente impossível correr, ainda por cima para quem vem com 110 km nas pernas e 4 bolhas nos pés. Alcançada a primeira "varanda" a vista é absolutamente soberba. Parece que estamos no topo do mundo. Sentei me numa rocha para restabelecer as energias e comer uma barra, lá ao fundo do "poço" via uns atletas que iniciavam a subida e lá ao cimo do monte outros que estavam prestes a acabar o purgatório. Continuei por ali acima e imprimi um pouco de mais velocidade para chegar a Torre e fazer a reavaliação das bolhas conforme havia combinado com as enfermeira na 1ª passagem.
Qual é o meu espanto que chegado ao ponto mais alto de Portugal Continental tinha uma enorme claque a minha espera. Estava completamente esgotado, praticamente não falei. Desculpem mas não conseguia mesmo. Obrigado Pedro Rebordão, Henrique, Simão, Joana, Matilde, João Vasco, Joãozinho, Sónia, Luzio, Diogo, Rodrigo, Cardoso, manas Xandinha e Sofia e claro a minha Necas e meu pequenote Gustavo que estava dentro do carro sobe o olhar atento da minha querida Laurinha. Ali estava ele a dormir que nem um anjo enquanto o teimoso do pai insistia em comemorar o seu nascimento concluindo as 100 milhas! Já tinha saudades tuas, e toda a gente a minha volta sabia que tinha um filhote com 24 dias :)
De rastos - Foto Joana Ferreira |
Como combinado e depois de comer tudo o que tinha na vontade lá fui eu tratar dos pés e medir a temperatura. Desta feita estava tudo bem com a temperatura, já as bolhas...A situação não melhorou, como é obvio. Novos pensos e lá vou eu a caminho de Loriga.
Apesar de ser a descer o grau de exigência é elevado, pois na zona da Torre existem tufos de relva que não ajudam a corrida e a Garganta da Loriga apesar de lindíssima também não é nada fácil descer por aquelas rochas. Para ajudar a festa, este ano o mato é mais denso num trilho bastante estreito e sinuoso. Apesar de tudo, aquela paisagem vale todo o esforço.
Demorei uma eternidade a chegar a Loriga. Estava lá o Luzio e a Nica para me receber. Depois de me verem a Nica fugiu logo, tal era o meu cansaço que nem me queria dizer nada com medo que desistisse. O Luzio acompanhou-me até ao abastecimento e lá me ajudou a encher os reservatórios de agua e a trazer a papinha ao menino. Mais uma vez troquei de roupa para me sentir mais confortável.
Ali sentado disse ao Luzio: "Acho que vou ficar aqui, estou de todo."
Incentivava-me a continuar, mas não o ouvia . O desespero e cansaço era enorme.
O David dizia: "Vá Francisco, vem connosco até a Cabeça. O percurso é fácil e depois há uma grande subida e aí as bolhas não te incomodam."
A custo e a medo, lá fui eu. Confidenciei ao Luzio que caso não recuperasse ficava no posto seguinte.
Foi o melhor que fiz, alem de ser um trajeto fácil é extremamente bonito. Fomos praticamente sempre a correr, ora num trilho dentro de um pinhal ora junto a uma levada de pedras de xisto com uma vista magnifica, lá em baixo avistava o rio, mas a distração não pode ser muita, pois há zonas em que a pedra está solta e tem um precipício mortal. Ali ainda consegui ir para a frente do grupo e impor um passo acelerado.
La chegamos ao PAC da Cabeça muito mais animados e com melhor aspeto.
O Saraiva e a Irene juntaram-se a Susete, aos Joãozinhos, Luzio, Sónia e Nica para nos dar a ultima força.
Dali até Seia faltavam pouco mais de 20 km, com subidas complicadas.
Seguimos novamente os três. Desta feita, como o trilho era novamente em pedrinhas e terra fina chateavam as bolhas e segui a reboque do David e da Isabel, tentando sempre não descolar muito.
Faltava então os PAC's de Valezim e Lapa dos Dinheiros.
Em Valezim ainda troquei dois dedos de conversa com populares que ali estavam admirados com os loucos que atravessam a serra dia e noite.
Praticamente não paramos, apenas demos os números dos dorsais e seguimos caminho até Lapa dos Dinheiros que fica a cerca de 3 km dali.
Aí chegados nova claque de apoio, os meus sobrinhos Diogo e Rodrigo, o João Daniel, o Adelino (que já tinham concluído as suas provas e estavam alí para me dar uma força) a Ana, o Saraiva, a Irene, a Susete, o Luzio, a Sónia, o meu cunhado Eduardo e talvez mais gente, mas pelo adiantar da hora e do cansaço nem sei...
O Diogo e o João queriam me acompanhar até ao fim, mas disse-lhes que não podiam, caso fizessem podia ser desclassificado. Lá comi o costume, sopa, tomate com sal, marmelada bananas...
O cansaço era muito e sabia bem que os 9 km finais eram terríveis com duas subidas curtas mas bastante inclinadas e com um final desesperante.
Na ultima subida, antes de chegar as levadas da Senhora do desterro tive uma má disposição brutal, disse para a Isabel que tinha que fazer uma paragem técnica para ela continuar sem mim. Dores brutais de barriga e vómitos atras de vómitos.
O David voltou para trás para ver se estava bem, disse que sim e já os apanhava... e lá seguiu depois de insistir com ele. A verdade é que depois desta paragem fiquei francamente melhor, não sei se pelo medo de falhar em cima da meta se me fez mesmo bem deitar cá para fora o mal.
Corria pela levada fora a alta velocidade, quando olho para o relógio e vejo: volta 158 10'. Afinal não vou assim tão rápido. Mas pensei, se calhar ainda apanhou a paragem técnica, continua assim com este ritmo que ainda os apanhas. Volta 159, outra vez próximo dos 10' por km. Bolas estou mesmo mal, parece que vou a sprintar e demoro 10 minutos a fazer um km!
Nesta parte da prova em que seguia sozinho na escuridão da Serra e pelo adiantar da hora (julgo eu) ouvia passos ao meu lado, como se tivesse alguém a correr ombro a ombro comigo, ainda olhei umas poucas de vezes para o lado e para trás para ter a certeza que estava completamente só, a luz do frontal batia em rochas e parecia fazer forma de pessoas e ou animais, mas conforme me ia aproximando essas imagens voltavam ao que realmente eram. Rochas!! Alucinações provocadas pelas mais de 30 horas sem dormir, pelo cansaço e talvez pelo medo de ficar ali no meio da serra sem conseguir pedir auxilio.
Nesta parte da prova em que seguia sozinho na escuridão da Serra e pelo adiantar da hora (julgo eu) ouvia passos ao meu lado, como se tivesse alguém a correr ombro a ombro comigo, ainda olhei umas poucas de vezes para o lado e para trás para ter a certeza que estava completamente só, a luz do frontal batia em rochas e parecia fazer forma de pessoas e ou animais, mas conforme me ia aproximando essas imagens voltavam ao que realmente eram. Rochas!! Alucinações provocadas pelas mais de 30 horas sem dormir, pelo cansaço e talvez pelo medo de ficar ali no meio da serra sem conseguir pedir auxilio.
Chegado então a ultima subida, lá está ela a Cabeça da Velha a olhar para mim.
Pensei, já está... daqui até Seia é sempre a descer e apesar do trilho ser péssimo para as bolhas e joelhos, vou chegar ao fim! Lá fomos os 3, sempre com o David a comandar o pelotão.
Acabou o trilho no estádio de Seia e agora é alcatrão até a meta.
O David e a Isabel ganharam-me uns metros e já chegados a meta param, esperam por mim para cruzarmos a meta os 3 ao mesmo tempo!
Ca está a foto para a posteridade. Eu e os meus padrinhos das 100 Milhas, o casal que me levou a meta só porque sim!
Padrinhos, bem haja por tudo - Foto Inês |
É tempo de limpar as armas e lamber as feridas. Faço uma pausa por tempo indeterminado com a garantia que na próxima edição do OMD estarei presente mas noutro registo.
Obrigado Horizontes por esta aventura, o OMD é a minha prova favorita e vou querer acompanhar de perto o vosso sucesso.
Agradeço a minha Necas que me apoiou incondicionalmente nesta loucura e incentivou-me a treinar mais e melhor.
Ao meu Gustavo, que esta historia marque a tua vida como marcou a minha!
Correr é uma paixão - Foto Ana Martins |