segunda-feira, 9 de junho de 2014

O Oh Meu Deus não acabou!?

O Xico da Boina está de volta passado uns bons meses de inactividade, tantos que já nem sabia a password.
OMD não acabou, mas não pensem que vou andar por aí a correr 72 Km em alta Montanha fim-de-semana sim fim de semana não.
Esta aventura começou no Natal 2013, quando fui “desafiado” por dois amigos, para fazer a Prova OMD 60Km, com início e chegada na Covilhã cidade neve. Feliz, ou infelizmente a edição 2014 foi totalmente diferente de 2013, mudou-se para o município de Seia e sofreu um “upgrade” e passou a ser OMD 72Km.
Quando recebi o primeiro e-mail a informar a mudança para Seia, fiquei desmotivado e pensei em desistir, porque o propósito de correr na Covilhã tinha perdido o efeito, mas pensei, que se lixe, vamos lá embarcar nesta loucura.
Passado uns meses, tive a notícia do tal “upgrade”, dessa vez, apenas encolhi os ombros e pensei, quem faz 60km faz 72km!
Nestes 6 meses, treinei muito, muito mesmo, de 1 de Janeiro até 6 de Junho foram 922 km em corrida de estrada e de Serra, muitas provas, meias maratonas, trails de 25, 30 e 52Km, muitos km em piscina (não consigo medir os km mas foram alguns), treinos de reforço muscular, descansar bem…
Fazendo as contas, no final desta semana, atinjo os 1000km, será que também tenho que ir à revisão como o meu amarelinho!? 
Como disse anteriormente, o OMD começou em Dezembro, mas há um momento que marca esta aventura.
Como a Inês não conhecia bem a Serra da Estrela, decidimos marcar férias no período da prova, assim passávamos uns dias na Serra, e posteriormente praia com eles! Um Ultramaratonista também descansa ou pensam que isto é sempre nos limites!?
Passeamos muito pela Serra da Estrela, Belmonte, Guarda, Piodão, Vide, Louriga, Sabugueiro, Unhais da Serra… deixei umas coisinhas para as próximas visitas.

Num desses passeios, julgo que na quarta-feira antes da prova passamos pela Torre e saltou-me isto à vista…



Parei o carro e tirei a foto, naquele momento começou realmente o OMD!
A partir desse dia em todos os nossos passeios víamos fitas e mais fitas, até parecia que me estavam a seguir, o que na realidade eu é que as devo seguir para que tudo corra bem e não me perder pela serra fora (o que não seria nada de dramático, estaria sempre em boa companhia).

No sábado acordei muito bem disposto, o que é normal em mim, mas naquele dia estava verdadeiramente feliz e cheio de adrenalina. Passavam da 6:15 da manhã, eu e o Luzio, (companheiro desta e de outras grandes aventuras) seguimos até a partida da Prova.
Estava tanto nevoeiro que não víamos nada das Penhas da Saúde até a Lagoa Comprida, mas o S. Pedro foi amigo e não nos quis castigar mais do que já estava estabelecido!

Ah… ainda não disse, nesse dia decidi correr de bigode!
E porque? 
Para aligeirar a coisa, foram muitos meses de rigor e sacrifício, este dia seria de divertimento e boa disposição e para isso estava lá o Sr do Bigode como me auto intitulei. 
Na partida ouvimos as recomendações da Organização, que nos alertava para os perigos da Serra. Soou a buzina às 8h em ponto, lá vou eu e o Luzio juntamente com mais uns 30/40 companheiros de luta atras do carro da policia que nos levou até ao cimo de Seia, e fim do alcatrão. Foi um início de prova muito difícil, sempre a subir e em alta velocidade, não sei se provocado pelo carro ou pela adrenalina dos participantes.

Passamos pela “cabeça da velha”, mas quase de certeza que a maior dos atletas não se aperceberam, pois passamos pelo sentido contrário e para ver a dita imagem era preciso olhar para trás, eu como conheço ainda disse ao Luzio para ver, mas acho que não prestou muita atenção. J

Chegamos a Sra. do Desterro, e aí chegou também o meu maior tormento para o resto da prova. Estava então no 8º Km quando senti necessidade de beber agua, recorri a minha rica mochila que tem um reservatório de água que ligado a um tubo faz com que beba agua directamente da mochila. Decidiu não funcionar… em bem “puxava” a água mas da mochila nem uma gota vinha… Naquele momento veio tudo a cabeça…

Parei ao 9º km e perdi o contacto com o Luzio nesse momento.
Tirei a mochila, vi se os tubos estavam dobrados e não permitiam a água “rolar”, mas o problema permanecia, e naquele momento pensei, não posso sair daqui sem uma solução, assim não me safo e não consigo chegar ao fim. Como a mochila não é mais teimosa que eu, depois de um grande e acesso dialogo, o Sr. do Bigode disse: “Não funcionas pois não, mas eu vou acabar isto quer queiras quer não, vou te encher de água e depois sempre que quiser beber, paro, tiro a mochila, encho o bidon e por aí fora…” e assim foi.
Esta logística tirou-me muito tempo de corrida, mas deu-me muitas e boas paisagens, ganhar nunca foi o objectivo, só queria mesmo chegar ao fim da prova sem lesões e sem grandes mazelas.
Este percalço tornou-me mais forte, tive tempo para apreciar a paisagem, comunicar com amigos, através de telefonemas, sms, facebook…
Há uma celebre frase que diz “o que não nos destrói torna-nos mais fortes”, mas prefiro a sms do Teixeira que li a caminho da Torre “se fosse fácil todos faziam, se não fosse difícil não seria grandioso”, obrigado amigo!
Respondi-lhe passado uns largos minutos, porque queria que fosse numa fase da prova igualmente grandiosa, foi praticamente por cima do vale glaciar, que paisagem fantástica!
Passado minutos desta sms de ânimo recebo uma chamada do João Santiago:
“Então meu onde estás?” 
"A chegar a Torre" respondi.
“Estou a subir de Loriga, achas que ainda te apanho na Torre?”
Respondi que não, e provavelmente só no vale do Rossim. Entretanto fiquei sem rede e lá continuei a caminho até ao ponto mais alto de Portugal Continental debaixo de um forte vento e um cerrado nevoeiro.
Chegado ali, quase chorei de satisfação. Ora bolas, vinha a subir há mais de 11 km!



Toda a gente merece ir a Garganta da Loriga e ao Covão da Nave, Covão da Areia… aquilo é lindo, lindo, lindo, só me apeteceu sentar e fazer uma belo piquenique, mas faltava-me o vinho, o queijo e o presunto. Aqui troquei sms com a Joana que estava preocupada com os amigos atletas.

Entrei na torre da GNR, enchi a mochila de água, comi e bebi e lá segui, comecei a descer em direcção da tal bandeira e quem lá estava? O João Santigo dentro do carro ao quentinho, bandido!!! Parei, trocamos uma breves palavras, dá ca 5 e até já! Valeu amigo, valeu mesmo, nem tenho palavras para te agradecer tamanha solidariedade!

Entretanto liguei a Inês, que já devia estar a concluir a prova dela, K25, correu tudo bem, uma prova mais dura do que estava a pensar, mas acabou de boa saúde, e melhor dos melhores, ficou em 3º Fem Geral, que orgulho meu amor!Mesmo que não tivesses ficado no pódio eu tinha orgulho! Posteriormente fiquei a saber que a Cláudia também tinha concluído a prova e que estava tudo bem! 

É o que se quer… tudo satisfeito!

Lá continuei pela Serra fora, chegado a Nave da Mestra, tive que parar por uns instantes tal é a beleza daquele local, bebi a água toda que tinha e lá segui até ao Vale do Rossim, onde estaria o João Santiago, a Susete (que entretanto já tinha falado com ela ao telemóvel a informar que apesar do percalço estava tudo bem).
O João como é mais maluco que eu, esperou por mim junto das fitas laranjas, mas das fitas dos loucos do K100 e K160 J, já só o voltei a ver em Seia, mas antes ainda falamos, estava eu no sabugueiro Km 60, fresquinho, a falar ao telemóvel e tudo.
No Vale do Rossim, abasteci normalmente, estava lá a Susete, e a Carolina que me ofereceram uma série de coisas, mas só bebi água de limão com magnésio, trocamos umas breves palavras e lá fui eu.
Consegui alcançar o colega da frente, e fizemos companhia um ao outro por alguns minutos, o rapaz descia muito rápido e eu não estava para aí virado… queria ir nas calmas e acelerar só mesmo a subir, meus ricos joelhinhos, há que os preservar que só tenho estes dois!
Passei o Sabugueiro, aldeia mais alta de Portugal, Povoa Velha, uma aldeia perto de Seia, inserida num Pinhal, onde se respirava ar puro.
A chegada a Seia, foi sempre a subir mas nessa altura já vinha por tudo, se naquele momento recebesse um e-mail a informar que tinha sido feito um upgrade para 80K eu continuava por aí fora. J

Aqui estou eu passados 72 Km e uns trocos, 9h e 55min.



Ah… ainda assim fui 6º na Geral, nada mau para a estreia do Sr. do Bigode!

Como as conquistas não são individuais, quero agradecer a todos os meus familiares, amigos, colegas de trabalho que me foram aturando ao longo destes 6 meses, ouvindo esta conversa da corrida. Mesmo não gostando ou não percebendo do tema, estiveram disponíveis para ouvir.

Agradeço a minha equipa e todos os seus atletas Correr Lisboa, por toda a disponibilidade e ajuda.

Ao Pedro Luzio, a Inês Barradas e a Cláudia Rato, companheiros desta grande aventura e também a todos os atletas com que me cruzei ao longo destes meses.

Um agradecimento especial a organização, Horizontes Portugal. Foram excepcionais, bem-haja.

Xico da Boina Ultramaratonista!!

O OMD não acabou, ficará sempre na minha memória.

2 comentários:

  1. Muitos parabéns Francisco. Não só pela prova mas pelos 6 meses de preparação. Fui acompanhando essa preparação e sei que a levaste muito a sério.
    Agora é começar a pensar já no próximo objectivo. :)
    Abraço e boas corridas. Vamo-nos vendo principalmente à terça.

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  2. A frase não é minha, mas acho que serviu que nem O2!!
    Teixeira

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